Os senhores que mandam no blogger, magnânimos que são, tiveram a gentileza de nos devolver o A Nosso Rádio original.
Simpáticos, não são? Ficamos-lhe muito agradecidos!
Podia ter sido pior... foram só 15 dias. Tivemos sorte...
Pelo sim, pelo não... vamos continuar a conservar este poiso, memo que sem movimento. É que nunca se sabe...

12.17.2005

"Onde Custa mais ser Português"

Calamo-nos para ouvir uma voz que vem do Canadá. Fala de muitas coisas e de muitos sentimentos. Pelo meio refere a RDP e a RTP.
Para ler e reflectir.



Cá longe... onde custa mais ser Português!

Alguém nos disse que, logo após a Segunda Guerra Mundial, Estados Unidos e União Soviética criaram autênticas agências de “caçadores de cérebros” alemães e de outras nacionalidades com eles ligados, por forma a enriquecerem a sua então emergente Ciência. Era certo e sabido, por essa altura, que a Alemanha tinha cabeças poderosas. Para além do megalómano Hitler e seus sequazes havia cientistas e inventores que poderiam enriquecer a nomenclatura científica da época.

Verdade ou mentira, é bom não esquecer que a ida à Lua foi gizada e planeada por nomes alemães - onde avulta o de Von Braun - então já ao serviço dos americanos. Idênticos “feitos” se passaram, decerto, na União Soviética, onde pelos vistos até mudavam os nomes aos tais “malandros” alemães que se iam apanhando...

Hoje, Portugal, reduzido à sua mais ínfima expressão, precisava, também, de uma brigada de caçadores de cabeças. Talvez até de uma brigada de caçadores de cabeças e de... investidores. Encontra essa gente nos mais diversos confins da terra. Disseminados em vários países e a enriquecer outras culturas. Talvez a fungar saudades da terra-mãe que sempre lhes foi madrasta.

Caçadores de cabeças! Uma necessidade imperiosa para o nosso pobre país de origem, que continua, paulatinamente, a bancar de grande senhor, rico e poderoso. Que continua cego e surdo aos “clamores da saudade” - com os nossos também à mistura - que pedem, apenas, reconhecimento e lhaneza de trato. Que se interrogam sobre como é possível dedilhar lá longe as cordas piegas de um “saudosismo” que nem governantes nem governados têm, a respeito dos que, um dia, por este ou aquele motivo, sairam do torrão natal.

CASOS E FACTOS QUE SÃO COMUNS

Um dia, já lá vão meia dúzia de anos, em estação de Televisão onde então trabalhávamos, alguém nos pedia para acompanharmos a visita de um determinado senhor que vinha da poderosa CNN. Lá fomos, ensaiando o nosso melhor Inglês, para “dar nas vistas” e “fazer boa figura”. Às primeiras palavras, o tal visitante abriu o livro. Queria sardinhas assadas. E como se vivia o “10 de Junho”, no Canadá, ele tinha a certeza que os Portugueses de lá... tinham as tais sardinhas assadas. Só depois é que, com um sotaque do centro de Portugal, nos atirou com a frase: “Homem, falamos em Português...”. Era, então, vice-presidente da toda poderosa CNN.


Mais recentemente, e ao serviço de um Jornal, fomos até ao último andar de uma “torre” do Scotia Bank. Era necessário ouvir um economista do “staf” daquele banco, acerca da conjuntura económica do Canadá, vis-a-vis com os Estados Unidos da América e com a União Europeia. A conversa fez-se em Português - em perfeito Português, entenda-se - por que o economista “senior” em causa era Português.

Será que Portugal não precisa de um verdadeiro dirigente de uma empresa como a “falida” RTP? Será que Portugal não precisa de um economista como aquele que entrevistámos na sede do poder daquele importante Banco canadiano?

Paulatinamente, se perguntássemos ao sr. Sócrates - e a muitos outros Sócrates que vamos tendo... - dir-nos-iam que não. Que Portugal tem, de facto, os seus quadros, consegue “milagres” com o seu pessoal, não precisando dos “restos do império” que estão um pouco por todo o mundo. E o sr. Sócrates - ou um qualquer outro que lhe vai suceder na chefia do governo - vai fazendo com que o país empobreça alegremente, já que “Dona” Europa se vai rindo das nossas vitórias bacocas, sem significado e sem substância...

Há, de facto, muitas cabeças “a caçar”, espalhadas por todo o mundo. Cabeças que acabaram por triunfar, quando postadas frente a outras realidades e a outros desafios. Que se interrogam, agora, sobre o porquê de não lhes ser pedido - pedido, escrevemos nós, e bem... - para voltar a Portugal, a ajudar os diversos sectores carentes de um “savoir faire” que nem sempre se encontra intra-muros. Interrogam-se mas debalde. Ninguém lhes responde. A não ser, talvez, com remoques de uma “superioridade” balofa e narcisista que não aceita nada nem ninguém que não seja de um certo “clã”.

CÁ... ONDE CUSTA MAIS SER PORTUGUÊS

Cá, onde custa mais ser Português, há, de facto, valores que Portugal deveria usar. Só lucraria com isso. Valores que, através de cursos ou de experiências, não custaram nada ao erário público português. Valores que não desdenhariam, até, ser postos à prova nos seus conhecimentos e na sua vivência talvez académica talvez de experiência. Valores que se vão perdendo, um pouco por toda a parte.

De resto, dizem-nos a toda a hora, Portugal perdeu a noção da “boa educação”. Há gente que, interessada em colmatar carências de todos conhecidas, escreve para o Governo, para as Universidades, para os grandes órgãos de Comunicação Social. Fica admirado por que ninguém responde. Chega a dar a ideia - e já o escrevemos variadíssimas vezes - que Portugal quer que os valores que vivem no estrangeiro, continuem a ser Portugueses mas... longe. Que se arvorem em bandeiras e símbolos de Portugal... mas longe da terra natal.

Assim sendo, não há que fugir. Importante será, aos poucos, na África do Sul como no Canadá, nos Estados Unidos como na Venezuela, continuarmis a construir determinados recantos do “Portugal da Saudade”. Porque, lá, naquele cantinho da Europa, interessam-se, de facto, por nós, quando da remessa de divisas ou quando inventamos... amigos para fazerem connosco as férias-turismo da saudade.


Desse “Portugal da Saudade”, de facto, só sai... saudade. Porque o resto... fica votado ao ostracismo. Que magoa sentimentos e fere o pudor daqueles que continuam a levantar bem alto o nome de Portugal.

E isto é mais gritante, até, quando se trata de organismos e agências de cariz virado para a emigração. Na RTPi, na RDPi, na Lusa, nos grandes órgãos de Comunicação Social... hão-de dizer-nos quantas “cabeças” têm a mínima noção do que representa a emigração. Hão-de-nos dizer se é possível, assim, fazer trabalho em prol dos portugueses residentes no estrangeiro. O mesmo acontece, de resto, em organismos como a Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas ou no Instituto Camões. Se o mesmo acontece, até, nas candidaturas dos partidos em relação aos (poucos) lugares de deputados pela Emigração!

Nesses, como em muitos outros aspectos, Portugal é pequeno... porque não quer crescer. É pobre... porque, fingindo-se rico, não o quer ser. E, no entanto, todos sabem que a maior riqueza de um País é o conjunto dos seus filhos. Lá dentro ou... cá fora.

* Fernando Cruz Gomes

*Jornalista
(LUSA (Toronto) e Sol Português)
Toronto - Canadá

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